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Destaques

ECONOMIA VERDE E ECONOMIA CIRCULAR: desafios e oportunidades

“… a história mostra que as Utopias sempre foram os seus verdadeiros motores. E neste caso não há mesmo outra alternativa.”

Mário Parra da Silva, Presidente da Aliança ODS Portugal e
Chairman do Global Compact Network Portugal

O livro, escrito por Anabela Vaz Ribeiro, Luís Miguel Fonseca e Sofia Santos, aborda o papel da inovação e da tecnologia na economia verde e na economia circular, oportunidades e inovação na fiscalidade verde, agendas nacionais e internacionais para a promoção da economia verde e a inovação verde nas pequenas e médias empresas.

A reflexão feita ao longo do documento permite ter um panorama geral sobre o desenvolvimento sustentável e a necessidade de transitar para uma economia mais verde e circular e, como essa transformação, se constitui como uma vantagem e um elemento diferenciador para as organizações que se revelam já despertas para o tema.

O conceito de Economia Verde surgiu com mais expressão na agenda internacional quando, em março de 2009, as Nações Unidas lançaram o documento ‘A Global Green New Deal’, tendo mais tarde sido divulgada através de várias publicações da UNEP. Nesse documento estava explícito que a economia verde poderia ser promovida através:

  • da eficiência energética dos edifícios;
  • de transportes sustentáveis;
  • de energia sustentável;
  • da Agricultura Sustentável e de tecnologias e técnicas para melhoria da eficiência da utilização da água.

Assim, a economia verde abrange de forma direta os seguintes setores (Burkart, 2012).

  • Energias renováveis (solar, eólica, geotérmica, das ondas marinhas, biogás e células de combustível);
  • Edifícios verdes (reaproveitamentos e auto-geração de energia e eficiência hídrica, avaliações residenciais e comerciais; produtos verdes e materiais, construção e LEED);
  • Transportes limpos (combustíveis alternativos, transportes públicos, veículos híbridos e elétricos, carsharing)
  • Gestão da água (recuperação de águas fluviais poluídas, manutenção das paisagens marítimas, purificação de água, gestão de águas pluviais);
  • Gestão de resíduos (reciclagem, recuperação de resíduos sólidos urbanos, recuperação de terrenos industriais, limpezas dos solos, embalagens sustentáveis, logística reversa);
  • Gestão da terra (agricultura orgânica, conservação e restauração de habitats, parques e florestas urbanas, sequestro de carbono)

Abrangendo de forma indireta muitos outros setores, como por exemplo:

  • Indústria Transformadora, através dos materiais que estava pode produzir para serem utilizados nos setores acima;
  • Indústria Automóvel, através das mudanças no fabrico dos automóveis associados à necessidade de se terem transportes mais limpos;
  • Indústria das Tecnologias de informação, através dos serviços e tecnologias digitais que podem ser produzidas para a obtenção de equipamento mais eficiente;
  • O setor agropecuário, através das mudanças no processo de produção agrícola e animal, de forma a que estas atividades tenham um menor impacte ambiental;
  • O setor do turismo, através da utilização de equipamento mais eficiente e da oferta de serviços de turismo que tenham um menor impacte ambiental e maior ligação com a comunidade;
  • O setor financeiro, através da análise do risco ambiental dos projetos que procuram por financiamento e da disponibilização de fundos para investirem em projetos que promovam uma economia de baixo carbono e com impacte social positivo;
  • O setor da educação através da necessidade que existe em capacitar os cidadãos para estas matérias.

Assim, conceito de Economia Verde é abrangente, juntando os temas da conservação da natureza com o alívio da pobreza, com a prosperidade económica (EEA) e com a tecnologia e inovação. Por isso é muito comum referir-se que uma economia verde é uma economia de baixo carbono, eficiente no uso dos recursos e socialmente inclusiva (UNEP, 2011), sendo também capaz de promover a competitividade das empresas através da eco inovação e identificação de oportunidades de mercado futuras.

O Acordo de Paris veio identificar a economia verde como a economia do século XXI, ao ter conseguido que cerca de 179 países tenham concordado em atingir a neutralidade carbónica na segunda metade deste século. Essa neutralidade carbónica, implica que os países têm de baixar as emissões de CO2 resultantes das suas atividades económicas tendo também de aumentar o sequestro de carbono que será necessário para absorver aquele carbono que não será possível eliminar. Isto indica que existe um novo potencial mercado em que as empresas devem identificar as suas oportunidades de negócio.

De acordo com a Agência Europeia do Ambiente, a economia verde é, portanto, uma economia onde os sistemas económico-social estão organizados de forma a permitirem que a sociedade viva bem e dentro dos limites do planeta. Como tal, uma economia verde, engloba três dimensões: aumento da eficiência no uso dos recursos; resiliência dos ecossistemas e bem-estar das pessoas. A Economia Circular constitui uma das componentes que integram a economia verde e que está essencialmente associada com a eficiência do uso dos recursos.

A Agenda de Investigação e Inovação da FCT para a Economia Circular, define “a Economia Circular como um conceito estratégico que assenta na prevenção, redução, reutilização, recuperação, e reciclagem de materiais e energia, substituindo o conceito de fim-de-vida da economia linear por novos fluxos circulares de reutilização, restauração e renovação, num processo integrado.” Afirma também que a EC se inspira nos mecanismos dos ecossistemas naturais, e como tal:

  1. “promove uma reorganização do modelo económico, através da coordenação dos sistemas de produção e consumo em circuitos fechados;
  2. caracteriza-se como um processo dinâmico que exige compatibilidade técnica e económica (capacidades e atividades produtivas) mas que também requer enquadramento social e institucional (incentivos e valores);
  3. ultrapassa o âmbito e foco estrito das ações de gestão de resíduos, como a reciclagem, visando uma ação mais ampla, desde o redesign de processos, produtos e novos modelos de negócio até à otimização da utilização de recursos — “circulando” o mais eficientemente produtos, componentes e materiais nos ciclos técnicos e/ou biológicos.” É assim bem visível o campo de atuação da EC, sempre com o objetivo de melhorarmos a eficiência do uso dos recursos naturais. Uma vez que esta Agenda de Investigação e Inovação tentou identificar os temas da Economia Circular que podem vir a ser relevantes para a academia e empresas no futuro, faz sentido termos noção dos temas que os peritos

Assim, esta Agenda identifica como eixos verticais da sua estratégia:

  • design de novos produtos, processos e serviços - tendencialmente eliminar a fase de fim de vida e prolongar o valor nos ciclos de materiais nos processos de produção, distribuição e consumo;
  • gestão sustentável do ciclo dos recursos - a gestão dos recursos naturais, seguindo a lógica da cadeia dos recursos, e incluindo a gestão e valorização dos resíduos;
  • governança e território - novos modelos de governança e instrumentos de política que estimulem a circularidade do território; e
  • novos modelos de negócio, comportamento e consumo - novos modelos que promovam comportamentos económicos e sociais mais sustentáveis;

E como eixos transversais a todos os acima identificados:

  • educação e formação – para formar, educar e capacitar cidadãos e profissionais para uma cidadania ativa, informada e empreendedora seja ao nível individual ou nas organizações;
  • tecnologias da informação e comunicação – para promover a desmaterialização e alicerçar novas formas de atuação na economia;
  • governança e instrumentos de gestão e política – para estimular e apoiar as atividades de I&I (e.g., incentivos) agilizando e simplificando procedimentos e ultrapassando obstáculos;

No que respeita aos eixos temáticos, identificaram-se:

  • simbioses industriais – colaboração entre indústrias para a partilha e valorização máxima dos recursos;
  • bioeconomia circular - uso circular, integrado e sustentável de recursos biológicos;
  • territórios circulares – simbiose, coesão, demografia e proximidade entre zonas urbanas periurbanas e rurais