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Artigos

ESG: O novo paradigma de gestão de risco empresarial, rumo ao crescimento sustentável

A influência das empresas no mundo contemporâneo é irrefutável, pela sua importância e capacidade de moldar o cenário global. Décadas antes do conceito "ESG" ser amplamente difundido, as empresas já eram alvo de campanhas para adotarem práticas comerciais mais justas e sustentáveis, relacionadas com os critérios "S" e "G". O destaque dado ao conceito "ESG", pelo relatório "Who Cares Wins: Connecting Financial Markets to a Changing World" (2004), - que defendia a integração dos critérios ESG na análise financeira, argumentando que as considerações ambientais, sociais e de governação podem afetar o desempenho das empresas a longo prazo -, juntamente com a criação dos Principles of Responsible Investment, uma iniciativa baseada em seis princípios destinados a promover os critérios ESG nas empresas, ampliou consideravelmente a sua importância, tornando-a uma questão incontornável no contexto empresarial atual.

Desta nova era, eclodiu um desafio central: a falta de padronização na divulgação de critérios ESG. A União Europeia (UE), ao longo das últimas duas décadas, tem dedicado esforços ao desenvolvimento e implementação de um quadro regulatório destinado a colmatar esta lacuna, com o objetivo de orientar e padronizar as divulgações exigidas e os critérios aplicados, em torno das questões ESG, adaptando-os aos setores e dimensão das empresas. Os mais relevantes, nesta matéria, são o Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (2019) – que categoriza os produtos financeiros com base no seu impacto ambiental e social -, a taxonomia da UE (2021) – que estabelece critérios para avaliar o impacto ambiental e social das atividades económicas - e a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD; 2022) - uma iniciativa legislativa da UE, que define os requisitos de divulgação de questões de sustentabilidade para as empresas. Esta tríade regulatória, centrada na promoção de transparência, comparabilidade, credibilidade e responsabilidade das empresas, surge em resposta às exigências dos investidores e outras partes interessadas relevantes.

O alargamento dos temas aos quais as empresas se devem debruçar, no âmbito da sua atividade, representa uma nova abordagem à gestão de risco, que pretende mitigar a significância e a transversalidade dos riscos associados à não consideração dos critérios ESG, entre os quais se destacam:  

  • Riscos financeiros, que podem dificultar a atração de investimento ou tornar as condições de investimento mais rigorosas, devido à perceção de maior risco;
  • Riscos operacionais, manifestados pela má alocação de recursos e ineficiência operacional;
  • Riscos de conformidade legal ou regulatória, que se traduz em coimas, sanções ou litígios, no caso de incumprimento da legislação;
  • Riscos de reputação e marca, decorrentes da perda de confiança dos clientes, boicotes de consumidores e impactos negativos na imagem da marca; e
  • Riscos na cadeia de abastecimento, resultantes da falta de transparência e controlo sobre as práticas de fornecedores e subcontratados.  

Complementarmente, a integração da abordagem ESG na estratégia empresarial cria valor para a organização, possibilitando, entre outros fatores, explorar e expandir novos mercados, reduzir custos, em termos de eficiência de recursos (energia, água, entre outros), e aumentar a rentabilidade da empresa, através do aumento da produtividade dos colaboradores, decorrente do fortalecimento do seu sentido de propósito.

Redirecionando o foco para o nosso contexto empresarial, impõe-se uma questão: Como estão as empresas portuguesas a adaptar-se às exigências dos critérios ESG num contexto tão regulamentado?

O contexto empresarial português é dominado (quase) exclusivamente por Pequenas e Médias Empresas (PME’s), que, embora tenham progredido em termos de sustentabilidade, ainda estão aquém do ideal. Apenas 15% das PME’s reportam sobre sustentabilidade (Center for Responsible Business and Leadership, 2023), um número que reflete a predominância de microempresas, as quais representam 96% do tecido empresarial português (Pordata, 2022).

Esta conjuntura reflete os principais desafios enfrentados pelas PME's, incluindo a falta de recursos e conhecimento, o alto investimento inicial e a resistência à mudança. Por outro lado, é importante reconhecer, que apesar da sua reduzida representatividade em Portugal (Pordata, 2022), as grandes empresas desempenham um papel crucial na economia do país, pelo que merecem um olhar igualmente atento. As grandes empresas, embora que, tendencialmente, possuam um estado de maturidade superior em ESG, enfrentam igualmente desafios, entre os quais se incluem, a complexidade da cultura organizacional, que se reflete na integração dos critérios ESG em todas as operações, inclusive na cadeia de abastecimento, bem como a recolha e gestão de dados, exigindo uma necessidade de investimento em capacitação e tecnologia. A complexidade dos requisitos de divulgação, a que estas empresas estão obrigadas a cumprir, no âmbito da CSRD, amplia ainda mais esses desafios.

Para auxiliar nesse processo, a Pedra Base desenvolveu uma brochura que oferece uma visão geral da CSRD de modo acessível e prático, proporcionando um ponto de partida para as empresas.